Semper Fi Shermans: M4 a serviço dos Marines - Parte 3

Fabrício Menardi

1 - Guam

O ataque à Guam se desenrolou enquanto a luta por Tinian prosseguia. No dia 21 de julho de 1944, desembarcaram na ilha a 3ª Divisão e a I Brigada Provisória dos Marines e suas respectivas unidades blindadas, o 3º Batalhão de Tanques e as Companhias de Tanques do 4º e 22º Regimentos.

Estas unidades se armaram com M4A2 mid-production, que foram equipados com wading trunks que dispunham de barris de 55 galões como escapes, uma improvisação que somente estas duas unidades lançariam mão.

Os tanques da I Brigada Provisória eram pintados de verde-oliva e suas marcações táticas eram símbolos geométricos como retângulos e quadrados (os tanques do HQ tinham como símbolo um trevo) dentro dos quais se inscrevia o número do veículo. Estes símbolos serviam para diferenciar os pelotões de tanques. À parte o trevo que era provavelmente pintado de verde, os símbolos geométricos e os números eram pintados de branco. Além disso, os Shermans tinham ainda a insígnia da unidade: um rinoceronte cinza cujas patas eram envoltas em uma numa de poeira branca. Alguns tanques podiam ter nomes próprios escritos nas laterais do casco.

Os Shermans do 3º Batalhão eram todos pintados de verde-oliva e possuíam muitas marcações (em branco) que incluíam nome do veículo, número de procuração, número nas laterais do casco e da torre e na proteção do mantelete, marcas de embarque e a estrela alada (winged star). Esta era á única unidade dos Marines a usar a estrela em seus veículos. Os Marines haviam abolido o uso da estrela aliada em seus veículos desde a batalha da Guadalcanal, pois estas serviam de alvo para os canhões antitanque dos japoneses. Como a unidade era derivada do I Corpo Anfíbio que lutara em Tarawa, seus veículos usavam ainda o símbolo deste corpo: um elefante esguichando água (vide a Parte 1).

O M4A2 do 3º Batalhão em exercício:

Tropas do 3ª Divisão dos Marines no desembarque em Guam:

Abaixo podemos ver dois Shermans do 4º Marines em proteção à infantaria na porção norte da ilha. Os blindados operam com seus wanding trunks ainda no lugar:

2 - Peleliu

A batalha por Peleliu, iniciada em 15 de setembro de 1944, é uma das mais controversas no Teatro do Pacífico. MacArthur planejava invadir Mindanao como o primeiro passo para sua volta às Filipinas e clamava por posições para proteger seu flanco oriental. Nas mãos dos japoneses, as Ilhas Palau eram uma arma apontada para as forças de invasão das Filipinas: a partir delas, os japoneses poderiam, lançar ataques navais contra as forças de invasão americanas. Alegava-se também que essas ilhas eram parte da estratégia para isolar a grande base japonesa em Truk, nas Carolinas.

Historiadores contemporâneos alegam que não havia necessidade alguma para a tomada de Peleliu. Mas, o fato é que ela aconteceu e de modo bastante sangrento.

Para esta batalha, a 1ª Divisão dos Marines, veterana da Nova Bretanha e Nova Guiné, foi equipada unicamente com M4A2 late-production. Por esta época, os Marines aboliram o uso dos tanques leves Stuarts. Nem mesmo o Satan seria usado; seu lança-chamas não alcançava distância suficiente e sua capacidade de dois minutos de combustível era inadequada para a batalha. No entanto, alguns Shermans foram armados com lança-chamas do tipo E4-5, que ocupavam o lugar da metralhadora do casco.

Os M4A2 do batalhão eram pintados com o ubíquo verde-oliva e suas marcações táticas eram muito bem padronizadas: letras (que indicavam a companhia) e números eram pintados à mão nas quatros porções da torre, a sigla USMC e o número do procuração do tanque eram pintados nas laterais do casco do veículo. Ao lado dessas marcas havia também o radio data (SCR-528) que indicava o tipo de rádio usado e as marcas de transporte e organização.

O A7 e o C9 mostram todas estas marcas e o modo também padronizado de como o 1º Batalhão usava esteiras sobressalentes para a proteção de seus tanques:

 As cores da batalha:

O M4A2 abaixo tem um dos escapes do wading trunk virado para trás. Um documento oficial sobre os batalhões de tanques dos Marines, o After Action Reports, revelou que os gases quentes que eram imitidos pelos escapes, quando usados como de costume, eram sugados para dentro do compartimento do motor causando uma superaquecimento do mesmo.

Como nas batalhas anteriores, os Shermans em Guam e Peleliu usaram esteiras (sem duckbills) do tipo T49 e T54E1, sendo que o último tipo prevalecia, principalmente em Peleliu.

3 - Shermans especializados

Os Marines fizeram uso também de veículos especializados como o Vehicle Tank Recovery (VTR) e o Sherman Dozer.

Os VTRs estavam entre os primeiros veículos a desembarcarem nas operações anfíbias dos Marines, pois, logo de início, a perda de tanques era grande. Cada companhia de tanques tinha seu próprio veículo de recuperação. Se a unidade usasse M4A2, seus VTRs também seriam baseados no M4A2, o M32A2. Caso usassem M4A3, os VTRs seriam do modelo M32A3.

O Almighty, um M32A2 mid-production, pertencia à Companhia C do 3º Batalhão de Tanques. Suas marcações são claras: nome, símbolo da unidade, a sigla USMC e os números de procuração do veículo. O nome Lulli aparece na parte frontal da escotilha do motorista:

Outro VTR do 3º Batalhão em Iwo Jima:

Um M32A2 late-production em Okinawa:

Shermans Dozer em Iwo Jima. O primeiro, um M4A3 pertencente ao 4º Batalhão, está desobstruindo uma vala. O tanque tem a torre protegida por esteiras e as escotilhas do motorista e do rádio operador têm telas de metal que eram usadas como proteção contra o ataque da infantaria nipônica. A segunda foto mostra um M4A2 do 3º Batalhão. No deck traseiro podemos ver o dispositivo onde se instalou o barril de 55 galões que serviu de escape para o wading trunk:

Na próxima e última parte, falaremos dos tanques em uso nas operações em Iwo Jima e Okinawa, batalhas que marcam o fim das operações no dos Marines no Pacífico.